ASA PB realiza processo preparatório para 7ª Festa Estadual das Sementes da Paixão
- Edição: Equipe O Colibri com informações do GT de
- 12 de set. de 2017
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Um resgate do patrimônio genético, uma afirmação de identidade, uma afetividade pela sua descendência, uma paixão. Muitas afirmações, poderíamos elencar para definir o sentimento das agricultoras e agricultores experimentadores pelas suas Sementes Crioulas, porém talvez não conseguíssemos expressar tudo o que esse patrimônio significa para cada uma e para um.
Para celebrar toda essa importância histórica das Sementes, a Articulação do Semiárido Paraibano (Asa PB) realizará de 05 a 07 de outubro a 7ª Festa Estadual das Sementes da Paixão, que terá como tema “Fortalecendo a Resistência e Celebrando a Vida no Semiárido”, nesta edição, o evento acontecerá na cidade de Boqueirão – PB.
A ASA têm realizado ações em preparação para os dias festivos, dentre estas, no último mês de agosto, mas precisamente no dia 31, aconteceu a Oficina de Contação de Histórias, um encontro de gerações recheado de emoção e sentimentos, movidos pelas histórias dos guardiões e guardiãs das sementes da paixão. A oficina foi realizada pelo GT de Comunicação da Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba), em Esperança, no Agreste da Paraíba.
Participaram do momento cerca de 20 guardiões e guardiãs de Sementes da Paixão, como ficaram conhecidas na Paraíba as sementes crioulas, cultivadas e preservadas pelas famílias agricultoras há várias gerações. O evento foi facilitado por Verônica Pragana, comunicadora da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), Rejane Alves, assessora pedagógica da ASA Paraíba e Maria Amélia, educadora do Serviço Pastoral do Migrante (SPM). Á luz da chamada “Pedagogia Griô”, foram vivenciados histórias de amor e de paixão pelas sementes da vida dos guardiões e guardiãs da Mãe Terra. Vários depoimentos emocionaram e aqueceram o coração dos apaixonados pelas suas Sementes.
Um dos primeiros a se sentir a vontade para falar foi o guardião mais idoso entre os presentes, Cassimiro Caetano Soares, o seu “Dodó”, de 80 anos, morador do Sítio Monteiro, município de Cacimbas-PB. Ele foi o criador da expressão “Sementes da Paixão”: “A semente é uma coisa que a gente tem paixão. É igual a casar com uma moça, você não casa se não tiver amor por ela. E você só tem paixão por ela (semente) porque ela é boa, que veio do seu avô, você conhece e sabe que ela é adaptada”.

Seu Joaquim Santana, do Sítio Montadas de Baixo, município de Montadas – PB revelou aos presentes: “Eu sou guardião da semente da fava orelha de vó. Foi uma história desde criança, meu pai dizia que cada pé de feijão que a gente arrancava, era uma lição que a gente aprendia. Essa semente foi da minha avó, ela estaria com quase 200 anos e já dizia que era da avó dela, imagina quantos anos não tem essa semente?”, se pergunta Joaquim.

Já para a agricultora, Sara Maria Constâncio, do Assentamento São Domingos, município de Cubati, que se emociona ao lembrar-se da paixão que um tio querido, Geraldo, tinha por suas sementes. Tanto que antes de morrer, lhe passou as sementes de gado e de feijão, porque sabia que ela iria cuidar e continuar multiplicando.
A participante mais nova da oficina era Maria Aparecida Barbosa, de 12 anos, do Sítio Piabas, em Aroeiras-PB, mesmo muito nova, a jovem já pensa em levar adiante os ensinamentos em torno das sementes: “minha família sempre guardou sementes. Desde muito pequena eu já ia para o roçado, meu pai fazia o buraco e eu colocava a semente. Hoje trabalho com minha mãe na feira agroecológica e quero quando crescer, passar tudo isso para os meus filhos”, planeja.

E assim, a ASA está construindo junto às agricultoras e agricultores os dias de celebração das Sementes que representam a resistência, a vida e a paixão.
Sobre a Pedagogia Griô - A Pedagogia Griô é uma pedagogia facilitadora de rituais de vínculo e aprendizagem entre as idades, entre a escola e a comunidade, entre grupos étnico-raciais, saberes ancestrais de tradição oral e as ciências e tecnologias universais. Trabalha por meio de um método de encantamento, vivencial, dialógico e partilhado para a elaboração do conhecimento e de um projeto de comunidade/humanidade que tem como foco a expressão da identidade, o vínculo com a ancestralidade e a celebração da vida, segundo a descrição de Lilian Pacheco, criadora da metodologia.
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