FUTUREO: UM MÉTODO DE PESQUISA PARTICIPATIVA TRANSDISCIPLINAR PARA CONSTRUIR UM BONITO FUTURO COLETI
- Por Luis Felipe Ulloa Forero
- 20 de jul. de 2017
- 4 min de leitura

Sonhar com dias melhores é um compromisso de todas as pessoas que não se cansaram de persistir em lutas e objetivos, mesmo tendo cenários de adversidades reais e concretas. Que seria dos povos do Semiárido sem sua persistência e resiliência.
Trazendo para o centro do debate essa perspectiva, pesquisadores brasileiros lançaram atualmente o livro, “Futureo – Um método fundamentado e convidativo para sonhar nosso futuro coletivo” que trata com profundidade à temática. A obra foi publicada pelo Instituto Nacional do Semiárido (Insa), e faz uma abordagem sobre a metodologia, que consiste na construção coletiva e consensual de uma imagem de futuro desejado, ou sonho bonito, patrimônio de uma comunidade que faz o exercício de Futureo. Propondo desde o momento de sua utilização, esse futuro bonito que orienta as ações e decisões dos seus membros.
Sonhar ou futurear diferentes condições de vida, foi sempre um exercício privado ou individual. Isto tem acontecido desde a época da invasão portuguesa-espanhola, e do sequestro e escravização de africanos trazidos para esta parte do mundo. Compartilhar esse sonho ou futuro bonito poderia converter-se o que hoje é conhecido por alguns como um princípio de "resistência" e para os outros como "rebelião", sendo este último, severamente estigmatizado. Como consequência disso, por falta de prática, pouco a pouco se perdeu nossa capacidade de construir juntos imagens de um futuro bonito.
A aplicação do método “Futureo” encontra uma dificuldade, que por sua vez é uma motivação: em geral, a atitude predominante da maioria dos latino-americanos é aceitar o futuro como se suas características e sua chegada estivessem absolutamente nas mãos de setores poderosos, que geralmente estão fora da comunidade, ou sob o controle de forças supra-humanas, assumindo que "as coisas devem ser assim" e não há nada a fazer. Não se discute ou se fala de construí-lo a partir do local, mas sim aceita-lo resignadamente.
A proposta do “Futureo” contradiz esta tendência perversa. Assume os seres humanos como sujeitos construtores desse futuro e, portanto, como transformadores responsáveis das condições atuais, na direção que juntos decidamos, assim, a comunidade, vai reconhecendo mais seu poder. Sonhar juntos e conscientemente, já é começar a construir.
O método do "Futureo" inclui um momento A, que parte de uma mística e, apresenta as etapas para criar o sonho bonito; um momento B, que objetiva transformar esse sonho em horizonte comunitário, como profecia; e um momento C, denominado fechar-abrindo, que contempla recomendações importantes para tornar realidade o sonho coletivo.
O Futureo como exercício de consenso, demanda que exista e se tornem visíveis às diferenças, entrelaçadas com semelhanças. Porém, as diferenças são difíceis de serem colocadas sobre a mesa, para discuti-las, especialmente quando não é uma pratica cotidiana. Isto é mais verdadeiro quando o medo, a força e a armadilha, são utilizados como argumentos ou estratégias para impor perspectivas dominantes, calando as posições de dissidência e, consequentemente, também a única chance de se defender. Esses elementos ajudam a interpretar as senti-logicas dos diferentes participantes no exercício do Futureo, ou seja, ajuda a compreender o “porquê” e o “para que” alguns setores ou pessoas fazem coisas de uma maneira e os outros de outra.
Nesta análise, o conceito de comunidade é tão importante quanto o conceito de diversidade. Pois, o comum (comunidade) os mantem juntos caminhando em um mesmo sentido, e o diferente (diversidade) se constitui no motor das mesmas, o qual as mantém desafiadas e ativas.
Graças à diversidade, podemos reconhecer na comunidade os vários Sujeitos com Interesses em Jogo (SIJU) e suas dinâmicas comunitárias, com suas próprias perspectivas e contribuições potenciais por meio de práticas específicas. O consenso no Futureo deve ser feito entre todos os Sujeitos com Interesses em Jogo, relevantes para a situação que nos preocupa ou nos ocupa.
Numa comunidade, nem sempre é fácil identificar todos os Sujeitos com Interesses em Jogo (SIJU). Para identifica-los podemos utilizar qualquer sistema de eleição de representantes, ou pela identificação de “protagonistas”, ou seja, pessoas que influenciam na comunidade devido ao grau ou tipo de envolvimento real e concreto deixando marca nas dinâmicas da comunidade. Para implementar o Futureo recomenda-se esta segunda opção, ou seja, pela identificação de "protagonistas”.
Sabemos que nas comunidades existem três tipos de protagonistas, que podemos diferenciar de acordo a maneira que influenciam o meio. O Primeiro tipo são os Protagonistas "líderes", aqueles que encabeçam, conduzem e mostram intencionalmente os caminhos, apontando destinos. Em muitos casos, eles representam um setor da comunidade. Eles tendem a ter muito peso nas decisões finais para as atividades, processos ou situações de que tratam. O segundo tipo são os Protagonistas “Impulsores”, os que promovem intencionalmente a realização de determinadas tarefas ou maneiras de fazer as coisas. Geralmente, fazem o que aconselham, e assim promovem iniciativas de mudança baseadas na prática. Este grupo de protagonistas também são chamados de "promotores". E finalmente, temos os Protagonistas "exemplificantes" ou “modelos”, assim denominados porque gostam de fazer bem o que fazem, com excelência, entusiasmo, convicção, sem nenhuma intenção de influenciar o próximo, mas mesmo assim, se tornaram modelos no que fazem. Assim, outras pessoas começam a imitá-los e tê-los como uma referência em seu trabalho.
Quando falamos em mudanças, nos interessam protagonistas dos três tipos, que sejam alternativos, sem perder de vista que existem também antagonistas ou protagonistas que se opõem as transformações que buscam os protagonistas alternativos. Estes antagonistas se opõem as mudanças, por algumas razões ou interesses.
O Futureo que nasceu a partir de outro método de análise, o de Revisão de Experiências com Vistas ao Futuro (REI-F); que consiste em processos de integração comunitária em uma iniciativa; exercícios de contraste de sonhos entre diferentes parceiros com a mesma iniciativa para proceder estabelecer a ideia de "Organização-Projeto", como passo prévio a um planejamento estratégico; em processos de reconhecimento, aclaração e fortalecimento das relações entre os co-participantes federações, grupos temáticos, redes, impulsores de conferências e outros eventos; etc.
O método do Futureo, partindo da lógica do REI-F, tem suas raízes na Nicarágua dos anos 90’s, em seguida, caminhou como um embrião no REI-F, para o México, Argentina e Brasil, até seu estado atual.
O livro é autorado por Luis Felipe Ulloa Forero, Rosilene Cassiano Silva Alves de Lima, Ana Paula dos Santos Silva e Aldrin Martin Perez-Marin e está disponível para os leitores no Link:
http://www.insa.gov.br/wp-content/uploads/2017/01/Livro-Futureo_final.pdf.
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